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POSTADO EM 06/09/2023 - 09h27

Festa das Flores e Morangos de Atibaia: Tecnologia, Inovação e Maior produção que Holambra

Presidente da Associação Pró Flor, Alexandre Hiranaka, concede entrevista exclusiva ao Portal Atibaia News sobre a edição 2023 da festa


Armando Teixeira Junior

Atibaia é conhecida nacionalmente pela sua produção de flores, pela qualidade de seus morangos e pela festa que todos os anos atrai milhares de turistas ao município. A Festa das Flores e Morangos chega a sua 41ª Edição trazendo como tema "Heiwa", que significa “Paz” e tem como destaque a grande variedade de flores e plantas, muitas delas ornamentais, as frutas de qualidade e a decoração dos espaços que garantem uma foto caprichada para as redes sociais no registro do passeio indicado para toda a família.

O Presidente da Associação Pró-Flor e vice-presidente da Associação Hortolândia de Atibaia, Alexandre Hiranaka, falou com exclusividade ao Portal Atibaia News e comentou sobre a história, os bastidores da festa e sobre a tecnologia no desenvolvimento de mudas, que poucas pessoas conhecem e que garante a grande qualidade das frutas locais.

Respondeu também por que o plantio de morangos na cidade tem diminuído e como Atibaia produz tanto quanto Holambra quando o assunto são flores e plantas ornamentais.

Entre as apostas, Alexandre ainda revela uma aposta ousada, que Atibaia será líder do país no desenvolvimento e na comercialização de mudas de morango.

Confira a entrevista.

Qual o tema da Festa das Flores deste ano? E qual o diferencial em relação as outras edições?

O tema é a Paz, e o diferencial são sempre as plantas e flores, porque sempre tem alguma novidade, alguma espécie nova a ser apresentada.

A decoração também muda todos os anos.

As esculturas do Pavilhão de Exposições são todas realizadas de forma artesanal, com estruturas de ferragem para sustentação e escultura...  Temos diversos materiais que são trabalhados com pintura para simular pedras, ambientes, somados as flores e morangos da decoração.

Quando começa o planejamento de uma edição da Festa das Flores e dos Morangos para chegar em setembro com tudo pronto para receber os visitantes?

Em outubro, quando encerra uma edição, já começamos o planejamento do ano seguinte. O trabalho de adequação aqui no Parque Edmundo Zanoni, começa geralmente no final de junho, a Prefeitura libera o espaço com 2 meses de antecedência mais ou menos para a preparação da festa. Mas o parque municipal segue aberto ao público o máximo possível, só é fechado quando se inicia a instalação de infraestrutura que podem causar acidentes caso alguém se aproxime sem tomar a devida atenção.

A Festa das Flores e Morangos tem uma participação muito ativa de toda a colônia japonesa de Atibaia. Conte um pouco da história e de como surgiu esse evento e do trabalho das associações na organização.

A história da Festa das Flores começou bem no início na área atrás do Cemitério (São João Batista), era uma festa pequena e regional promovida pela associação das famílias japonesas de Atibaia, que antes era chamada de “Bunkyo” e hoje é a ACENBRA.

Essa festa era como se fosse a “Festa da Primavera”, e tinha uma série de costumes bem tradicionais da colônia nipo. Com o tempo ela foi crescendo e só então se tornou a Festa das Flores e Morangos como é hoje no Parque Edmundo Zanoni, essa mudança do local foi há exatos 41 anos atrás.

E sobre o trabalho das Associações....

A colônia sempre se junta em associações... assim como foi com as colônias de imigrantes italianos, alemães.... e através dessas associações são promovidas as festas típicas, como por exemplo a Festa da Uva de Jundiaí.

Em Atibaia as ações da colônia nipo se concentram na ACENBRA, que é a Associação Cultural, a Escola de Língua Japonesa, o Beisebol e toda a parte esportiva, tudo para reunir os descendentes.

A Pró-Flor já é uma associação voltada para o desenvolvimento da Floricultura, direcionada a procurar insumos, intercâmbios, inclusive com o Japão, favorecendo a troca de tecnologias.



Já a Associação Hortolândia foi aberta para a organização da Festa das Flores e Morangos e de outros eventos, para reunir as outras associações e centralizar as decisões.

Atibaia recebeu o título de “Capital Nacional do Morango”, mas se destaca ainda mais pela grande produção de flores. Por isso o nome do evento é “Festa das Flores e Morangos de Atibaia”?

Atibaia é a maior produtora de Flores e já foi a maior produtora de Morangos, por isso o nome da festa. Muita gente fala que Atibaia não produz mais a mesma quantidade de Morangos, mas isso não é culpa dos produtores, e sim do clima que mudou muito.

Esse calor que temos atualmente no mês de junho inviabiliza o plantio do morango por aqui.

Um lugar que tinha 25 graus de máxima no verão e hoje está com 40 graus. No inverno registramos temperatura de 30 graus; enquanto isso na região de Cambuí que tem se plantado muito morango, é serra, pode até ter um sol parecido, mas não esquenta como aqui, de dia é fresco e a noite é frio.

Outro fator que atrapalhou a produção de morangos em Atibaia foram as pragas, que também vieram por causa do calor. Mas isso não quer dizer que a cidade não é uma referência no plantio da fruta, o diferencial de Atibaia é o trabalho na produção de mudas e desenvolvimento, e isso pouca gente sabe. O morango que se planta em Minas sai daqui... o desenvolvimento das mudas é daqui... a tecnologia é nossa.

E em relação ao plantio de Flores, Atibaia é ainda a principal produtora do país?

Holambra é grande em comercialização, mas em área de produção não é maior que Atibaia. O que aconteceu é que Holambra seguiu a tradição da Holanda que são muito bons no comércio. A Holanda em área de produção de flores não é maior que a França, Itália, Alemanha..., mas em sistema de comercialização eles são os mais fortes. Por isso a cidade de Holambra pode até comercializar melhor suas flores, mas Atibaia planta mais e tem mais variedade de flores.

Pouca gente sabe desse pioneirismo de Atibaia, que em parceria com a Embrapa produz morangos com menor taxa de agrotóxicos. O que, na sua opinião, faz tanta diferença para que as mudas produzidas em Atibaia tenham tanta qualidade?

Eu não conheço bem toda a história, só sei o que me contaram, só conheci duas pessoas que sabem bem a história dos morangos de Atibaia, o senhor Maziero e o Mario Inui, já falecido.

Eu lembro que as variedades antigas eram a Guarani, depois o Campineiro, variedades desenvolvidas pelo IAC de Campinas, que naquela época viram um mercado bom, e o morango não tinha um mercado tão grande quanto é hoje, mas é uma fruta que o mundo inteiro gosta, só que aí, por parte de política e governo foram cortando verba, cortando verba, e o IAC parou de investir no melhoramento de morango e passou a investir no melhoramento de outras culturas, e a Embrapa também, e o morango ficou esquecido por décadas, começou agora de novo, tinha um ou outro que fazia o desenvolvimento, mas são pessoas que fazem porque gostam porque não têm apoio de ninguém.

Agora, parece que vem um apoio bom da Embrapa e conseguiram uma verba para desenvolver novas variedades.  Até então, era cana, soja, milho, o que dá dinheiro, o morango ficou esquecido. Ficaram três décadas desenvolvendo soja e hoje o Brasil é o maior produtor de soja no mundo.

Depois disso, passou a entrar as variedades de morango importadas como Dover que era horrível, parece isopor sem gosto. Tinham outras variedades que entraram pelo sul do país, como OSO grande, Camarosa, bem mais saborosas.

E sobre o desenvolvimento específico do Morango de Atibaia?

O Mario Inui fez uma parceria com a Associação e conseguiram trazer mudas da universidade da Califórnia que é o que mais vende hoje. Nesse ponto alguns produtores cometeram um erro. A Associação podia multiplicar, podia ter parceria com o IAC e com qualquer laboratório para aumentar o número de mudas, para os produtores locais desenvolverem. Só que alguns produtores compravam um pouquinho, multiplicavam em casa e foram aumentando indefinidamente, mas isso não pode, tem patente, tem contrato, daí o cara comprava cem e plantava dez mil. A Universidade da Califórnia, detentora das variedades cortou a relação com os produtores por causa disso.

Isso atrapalhou bastante. Hoje muitos desses produtores que fizeram essa multiplicação pararam de plantar, porque o material genético da muda ficou muito ruim.

Quando você faz isso e não tem material genético bom, a produção despenca. Primeiro ano vai bem, segundo ano vai ótimo, terceiro mais ou menos, no quarto talvez melhora, a partir do quinto ano é só ladeira abaixo e você quebra.

É preciso ter material genético bom e de qualidade. Na agricultura, qualquer coisa é assim, por isso que existe o produtor de muda e o produtor de produto final.

Você falou muito sobre a diferença do esforço para o desenvolvimento de mudas melhores para aumentar qualidade e rentabilidade. Então hoje agricultura é matemática e tecnologia, não é apenas ter muitas terras para plantar?

Com certeza, tem que ter, por isso que as empresas estão sempre desenvolvendo novas tecnologias para aumentar a rentabilidade por metro quadrado.

Quem produz muda não quer só ganhar dinheiro, ele está entregando material genético novo, uma planta forte que vai dar o resultado que você quer. O preço de produção por hectare é muito caro, irrigação, adubo, funcionário, tudo isso tem custo. Se ao invés de produzir 10 kg você produz 1 quilo, você quebra. Se você produzir 7 kg você quebra. Agricultura é peso, quantidade por metro quadrado, se não colher é prejuízo.

O simpósio do morango que vai ocorre em Atibaia é para desenvolver o produto?

Esse simpósio é para apresentar variedades, a Embrapa está vendo todo esse problema onde muitas empresas estão importando mudas. As mesmas mudas que a associação tinha o direito de propagar e vender até mais barato para os produtores locais, por causa dos produtores de antigamente, não pode mais. Aí eles estão comprando as mesmas mudas do Chile, da Espanha, que são os dois maiores produtores de mudas do mundo. Estão importando muda porque as mudas que temos aqui não funcionam mais.

Se você importar com certeza vai produzir mais por metro quadrado. O Brasil que era um grande produtor e tem um histórico de desenvolver variedades perdeu espaço. A Embrapa começou a estudar, já não é de hoje, desenvolvimento de variedades e isso demora, para você ter uma variedade boa são dez, vinte anos, se tiver sorte, se não tiver sorte não sai nada. Então, saíram algumas variedades boas e tem umas duas que eles iam descartar, e a Prefeitura de Atibaia segurou, porquê aqui elas foram bem. Então, o senhor Maziero, e a Secretaria de Agricultura de Atibaia disseram que essas variedades não são ruins não, deixaram aqui, ficaram mais de um ano trabalhando com elas e hoje vão entrar no rol de variedades comerciais. As variedades que produzem em Atibaia não tiveram o mesmo sucesso no Sul, tudo é uma questão de clima.

Quem irá participar do simpósio? É aberto ao público?

Esse simpósio é para troca de ideias, quem vão participar do simpósio, são as pessoas que mais entendem de morango no Brasil, os “Bil Gates” do morango de cada setor, embalagem, plantio, cultura de tecido, tudo .... Eles vão estar nesse simpósio e deve ocorrer a apresentação de novas variedades.

O Simpósio vai ocorre nos dias 22, 23 e 24 de setembro. O evento não é para 10 mil pessoas, mas deve juntar umas 200 pessoas..., mas se juntar 1000 pessoas o Sr. Maziero vai dar pulos de alegria. A gente faz eventos, espera grande quantidade de pessoas, daí aparecem poucas e isso desanima.

Mas, Atibaia vai ser ainda o maior polo de produção de mudas de morangos do País, tenho certeza disso. Não vai ser em curto prazo, mas em longo prazo com certeza, até porque fiquei sabendo que várias grandes empresas de sementes e mudas possuem terras em Atibaia ou na região, a Agro Flora, a Bayern, etc. As maiores empresas que dominam a agricultura no mundo estão aqui na região.  Eles têm essas terras por causa do clima, aqui temos o clima do ano inteiro em um dia só, faz 30 graus de dia e 10 graus à noite. Deve ser por isso, a região é boa para o desenvolvimento de variedades resistentes.

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